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Concepção e desenvolvimento
Steven Moffat e Mark Gatiss, ambos grandes fãs de Sherlock Holmes, já tinham adaptado obras da literatura vitoriana à televisão quando começaram a pensar num conceito para uma série sobre o famoso detetive. Moffat adaptou o romance The Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde para a série Jekyll e Gatiss escreveu o episódio The Uniquiet Dead da série Doctor Who que, para além de conter vários elementos dos romances de Charles Dickens, o próprio autor é uma das personagens. Steve Moffat e Mark Gatiss, ambos argumentistas na série Doctor Who, discutiram os planos para uma adaptação de Sherlock Holmes durante as várias viagens de comboio para Cardiff, cidade onde a série Doctor Who é produzida. Quando se encontravam em Monte Carlo para uma cerimónia de entrega de prémios, a esposa de Steven Moffat, a produtora Sue Vertue, encorajou o marido e o amigo a desenvolverem o projeto antes que outra equipa tivesse a mesma ideia. Moffat e Gatiss convidaram Steve Thompson para escrever para a série em setembro de 2008.

Mark Gatiss criticou algumas das adaptações mais recentes das histórias de Sir Arthur Conan Doyle, dizendo que estas eram "demasiado reverentes e lentas" e que tinham como objetivo serem tão irreverentes ao cânone como os filmes dos anos 1930 e 1940 com Basil Rathbone. O Sherlock Holmes de Benedict Cumberbatch usa tecnologias modernas tais como SMS's, internet e GPS para resolver crimes. Paul McGuigan, que realizou dois episódios de Sherlock, diz que isto é fiel à personagem de Conan Doyle uma vez que "nos livros, ele usava todas as engenhocas possíveis e estava sempre no laboratório a fazer experiências. Isto não passa de uma versão moderna disso. Ele usa ferramentas que estão disponíveis hoje em dia para descobrir coisas".
Esta atualização mantém alguns dos elementos tradicionais das histórias, tais como a morada em Baker Street e o arqui-inimigo de Holmes, Moriarty. Apesar de alguns dos acontecimentos dos livros serem transferidos para os dias de hoje, os elementos do cânone estão incorporados na história. Por exemplo, a personagem de Martin Freeman, o Dr. Watson, regressa do serviço militar no Afeganistão. Ao discutir o facto de o Dr. Watson original ter ficado inválido na Segunda Guerra Anglo-Afegã (1878-1880), Gatiss apercebeu-se de que "agora estamos a viver a mesma guerra. A mesma guerra impossível de vencer".

Foi anunciado que seria produzido um episódio de 60 minutos de Sherlock2 no Edinburgh International Television Festival em agosto de 2008 e esse episódio seria transmitido no final de 2009. A intenção era produzir uma série de seis episódios de 60 minutos se o episódio piloto tivesse sucesso. Porém, a primeira versão do piloto que, segundo o jornal The Guardian, terá custado 800 000 libras, deu origem a rumores na BBC e noutros meios de comunicação de que Sherlock poderia ser um desastre. A BBC decidiu não transmitir o piloto e pediu que este voltasse a ser filmado, mudando a sua encomenda para três episódios de 90 minutos. O episódio piloto original foi incluído no DVD da primeira série. Durante o comentário-áudio, a equipa criativa disse que a BBC tinha ficado "bastante satisfeita" com o piloto, mas pediu que o formato fosse mudado. Quando o piloto foi lançado no DVD, o crítico Mark Lawson notou que o episódio que acabou por ser transmitido foi "aumentado e reescrito de forma substancial e foi completamente re-imaginado no seu aspeto, ritmo e som". Em julho de 2009, o departamento de drama da BBC anunciou que tinha planos para produzir três episódios de 90 minutos que seriam transmitidos em 2010. Steven Moffat tinha anunciado anteriormente que, se fosse encomendada uma série de Sherlock, este assumiria o papel de produtor executivo para que se pudesse concentrar na produção de Doctor Who.

Personagens
Steven Moffat e Sue Vertue ficaram interessados em Benedict Cumberbatch depois de o verem no filme Atonement. O ator foi escolhido para o papel de Sherlock Holmes depois de ler o guião para a equipe criativa. O jornal The Guardian disse: "Benedict Cumberbatch é conhecido por representar homens bizarros e brilhantes muito bem, e o seu Holmes é frio, um amante de tecnologia e tem alguns traços da síndrome de asperger". Cumberbatch disse: "Quando estou a interpretar, sinto uma carga de energia devido ao volume de palavras que tenho na cabeça e à velocidade de pensamento que me obriga a conectar as coisas muito depressa. Ele está sempre à frente da audiência e de toda a gente com um intelecto normal que o rodeia. Essas pessoas não conseguem perceber onde é que ele está a ir". Piers Wenger, o chefe do departamento de drama da BBC Wales, descreveu o Sherlock Holmes da série como "um super-herói dinâmico num mundo moderno, um investigador arrogante e genial motivado pelo desejo de provar que é mais esperto do que o criminoso e a polícia e toda a gente, na verdade". Em consequência da mudança nas atitudes da sociedade e dos regulamentos de transmissão, o Sherlock Holmes de Cumberbatch usa adesivos de nicotina em vez de fumar um cachimbo. Os argumentistas eram da opinião que Sherlock Holmes devia falar como "uma pessoa completamente moderna", disse Steven Moffat, mas a intenção inicial era que "nunca parecesse que ele estava a dar uma aula". Porém, Steven Moffat tornou a personagem "mais vitoriana" na segunda temporada de forma a aproveitar a "bela voz" de Benedict Cumberbatch e para parecer que "ele está a dar uma aula".

Numa entrevista ao The Observer, o co-criador Mark Gatiss disse que tiveram mais dificuldade a encontrar o ator certo para o papel de Dr. John Watson do que para a personagem principal. A produtora Sue Vertue disse: "O Benedict foi a única pessoa que vimos para [o papel de] Sherlock...assim que conseguimos o Benedict, a única coisa que nos restava fazer era garantir que encontrávamos a química certa com o John [Watson] e acho que conseguimos isso, mal eles entram numa sala conseguimos ver que eles resultam juntos. Vários atores fizeram a audição para o papel de Watson e Martin Freeman foi o escolhido para o papel. Steven Moffat disse que Matt Smith foi o primeiro ator que fez a audição para o papel, sem sucesso. Foi rejeitado por ser demasiado "excêntrico" e os produtores queriam alguém mais "sério" para o papel de Watson. Pouco tempo depois, Steven Moffat escolheu Matt Smith para o papel de 11º Doutor em Doctor Who.
Os escritores disseram que a escolha de Martin Freeman desenvolveu a forma como Benedict Cumberbatch interpreta Sherlock Holmes. O tema da "amizade" era apelativo tanto para Mark Gatiss como para Steven Moffat. Gatiss afirmou a importância de alcançar o tom correto da personagem. "O Watson não é um idiota, apesar de ser verdade que Conan Doyle sempre o menosprezou", disse Gatiss. "Mas só um idiota é que se rodeia de outros idiotas". Moffat disse que Freeman é "uma espécie de oposto do Benedict em tudo, menos na quantidade de talento...O Martin encontra uma espécie de poesia no homem comum. Adoro o realismo fastidioso de tudo o que ele faz". Martin Freeman descreve a sua personagem como a "bússola moral" de Sherlock porque a personagem epônima nem sempre tem em consideração a moralidade e a ética das suas ações".

Rupert Graves foi o escolhido para o papel de Greg Lestrade. Os argumentistas referiam-se à personagem como "Inspetor Lestrade" durante a fase de desenvolvimento até Mark Gatiss se aperceber que atualmente a personagem teria o título de "Detetive Inspetor" no Reino Unido. Moffat e Gatiss sublinham que Lestrade não aparece com frequência nas histórias e é bastante inconsistente nelas. Eles decidiram escolher a versão que surge em The Adventure of the Six Napoleons: um homem que fica frustrado com Holmes, mas que o admira e que Holmes considera a melhor pessoa na Scotland Yard. No episódio The Hounds of Baskerville é revelado que o primeiro nome de Lestrade é Greg.

Andrew Scott surgiu como Jim Moriarty pela primeira vez no episódio The Great Game. Moffat disse: "Já sabíamos o que queríamos fazer com o Moriarty desde o início. Normalmente o Moriarty é um vilão bastante aborrecido e chique, por isso achámos que o melhor era fazê-lo verdadeiramente assustador. Alguém que é um autêntico psicopata". A ideia original de Moffat e Gatiss não era de inserir uma confrontação entre Moriarty e Sherlock nos primeiros três episódios, mas depois aperceberam-se de que "tínhamos mesmo de fazer uma versão da cena de The Final Problem onde estes dois arqui-inimigos se conhecem".

O restante elenco regular é composto por Una Stubbs, no papel de Sra. Hudson e pelo co-criador Mark Gatiss, no papel de Mycroft Holmes, o irmão mais velho de Sherlock. Vinette Robinson, Jonathan Aris e Louise Brealey desempenham os papéis recorrentes da Sargento Sally Donovan, Anderson e Molly Hooper, respetivamente.

A série conta ainda com as participações especiais de Phil Davis no papel de Jeff, Paul Chequer no papel de Dimmock, Zoe Telford no papel de Sarah, Gemma Chan no papel de Soo Lin Yao, John Sessions no papel de Kenny Prince, Haydn Gwynne no papel de Miss Wenceslas, Deborah Moore no papel de uma das vítimas de Moriarty e Peter Davison fez a narração no planetário. O primeiro episódio da segunda temporada, A Scandal in Belgravia, contou com Lara Pulver no papel de Irene Adler, no segundo The Hounds of Baskerville, Russel Tovey fez o papel de Henry Knight. No último episódio da segunda temporada, o papel de Max Bruhl foi interpretado por Edward Holtom.

Filmagens

A série foi produzida pela Hartswood Films para a BBC Wales e a BBC Worldwide contribuiu com alguns fundos. A empresa Masterpiece, financiada pela PBS, também é co-produtora da série. As filmagens do episódio piloto que acabou por não ser exibido, escrito por Steven Moffat e realizado por Coky Giedroyc, começaram em janeiro de 2009. As filmagens da primeira temporada começaram em janeiro de 2010. Paul McGuian realizou o primeiro e o terceiro episódio e Euros Lyn realizou o segundo. Os três episódios da primeira temporada foram filmados na ordem reversa da sua transmissão.

Mark Gatiss afirma que a equipa queria "fazer da Londres moderna um fetiche, da mesma forma que os livros o faziam com a Londres Vitoriana". A produção tem a sua base na unidade de produção da Hartswood Films em Cardiff, a Hartswood Films West, inaugurada no final de 2009 para tirar proveito da "aldeia do drama" da BBC na Baía de Cardiff. As filmagens das duas primeiras temporadas da série ocorreram nos Upper Boat Studios, onde a série Doctor Who foi filmada. Era mais económico filmar em Cardiff do que em Londres e a cidade oferece alguns locais que se assemelham bastante à capital do Reino Unido. Porém, era impossível imitar alguns dos pormenores arquitectónicos, pelo que foi necessário filmar parte da série em Londres. Quando é necessário filmar cenas exteriores na morada de Sherlock Holmes em 221B Baker Street, a equipa usa o número 187 em North Gower Street. Era impossível filmar no verdadeiro endereço das histórias de Sir Arthur Conan Doyle devido ao trânsito intenso e à grande quantidade de locais que exibem o nome "Sherlock Holmes" que teriam de ser escondidas. A produtora executiva Beryl Vertue explicou que era importante criar o apartamento de Sherlock de forma a que fosse moderno, mas ao mesmo tempo refletisse a sua excentricidade. Segundo ela, Sherlock não podia viver nos subúrbios nem num local demasiado moderno.
O guarda-roupa do episódio piloto foi criado por Ray Holman, vencedor de um BAFTA. Benedict Cumberbatch usa um sobretudo que custou 1000 libras da Belstaff em todos os episódios da série. Sarah Arthur, a figurinista da série, explicou como chegou ao visual do detetive. "O Holmes não é o tipo de pessoa que se interessa por moda, por isso optei por roupas clássicas com pormenores modernos: calças justas e casacos de dois botões justos. Também optei por camisas slim e um sobretudo esvoaçante para as cenas de ação que se integra muito bem com a linha do horizonte de Londres".

Os argumentistas afirmam que não queriam que a modernidade da história parecesse forçada. Houve alguns desafios a nível criativo, nomeadamente a decisão de incluir a placa a dizer "221B" na porta de Holmes. Mark Gatiss e Steven Moffat refletiram sobre o facto de atualmente as portas mostrarem apenas o número da casa e que todos os apartamentos terem campainhas. Porém, o número completo da casa é tão icónico que os dois não o conseguiram alterar. Os argumentistas também decidiram que as personagens principais se tratariam pelos respetivos primeiros nomes, em vez dos tradicionais Holmes e Watson. Isso refletiu-se no título da série. O realizador Paul McGuigan teve a ideia de exibir as SMS's no ecrã em vez de filmar as personagens a vê-las nos seus telemóveis.

Os produtores Steve Moffat e Mark Gatiss tiveram dificuldades para juntar os atores principais para a segunda temporada. Benedict Cumberbatch e Martin Freeman entraram no filme The Hobbit: An Unexpected Journey (Benedict com a voz do Dragão) de 2012 e Steven Moffat manteve a sua função de argumentista principal na série Doctor Who. O The Guardian concluiu que, de forma a compensar os largos meses que passaram entre a transmissão da primeira e da segunda temporada, os três episódios transmitidos no início de 2012 baseiam-se nas histórias mais conhecidas de Sir Arthur Conan Doyle (A Scandal in Bohemia, The Hound of the Baskervilles e The Final Problem). Mark Gatiss afirmou que se tinha falado de usar estas histórias ao longo de três anos, mas Steven Moffat disse que eles se recusaram a "adiar o prazer". A relação entre Holmes e Watson desenvolveu-se durante a segunda temporada, tendo Watson ficado cada vez menos impressionado com as capacidades dedutivas de Sherlock Holmes. John Watson foi o detetive principal no segundo episódio, The Hounds of Baskerville. O elenco e a equipa técnica estavam mais confiantes na segunda temporada devido às reações positivas que o público e a crítica tiveram na primeira temporada.