rolfmuller

10 de março de 2019 às 07:06 4 views

Foto: Subindo ao Acotango (6054 m) Bolivia



Diária da Boliva, Projeto Parinacota 6350 metros – parte 9

 

Uhuuu! Minha quarta montanha acima de 6000! Eu aproveito para gravar um video rápido, além de fazer umas fotos panorâmicas. O problema de fotografar na montanha, é, que cansa muito. As vezes é preciso tomar a decisão, se quer chegar ou fazer fotos. Dessa vez eu queria muito chegar. Além do mais, a rota que a gente escolheu, foi por trás do nascer do sol, ou seja, quando o sol nos tocou, já estava bem claro e sem cores.

 

Ah sim, o sol. Um capítulo à parte. O meu nariz parece um tomate e brilha no escuro, apesar do protetor 60. O sol é muito forte aqui. As costas da minha mão também estão parecendo um couro, já que nos primeiros dias não precisei de luvas. Claro que a neve também reflete, ou seja, dificilmente escapa dos raios, mas enfim, não tem bonus sem ônus. No dia seguinte faço o que nunca faria em circunstâncias normais: aplicar um hidradante para tentar recuperar um pouco a pele.

 

A subida levou 7 horas. O desgaste de calorias deve girar em torno de 3500-4500, tomando como base os dias anteriores. Alias, aqui pode comer de tudo e sem culpa, porque o desgaste de calorias é muito alto. Mas a descida é um suplício. Estou muito cansado, pela segunda vez essa montanha consegue me torturar na descida. Levamos cerca de 3 horas e meia e geralmente tão calmo Jesus perde a paciência várias vezes…rs

Eu chego a cair duas vezes, a primeira, porque os grampões se enchem de neve e vou um pedaço ladeira abaixo, em torno de uns 20 metros. Como se acumula bastante neve embaixo da minha bunda, eu consigo freiar, mas esse é um dos riscos na baixada, porque uma vez caído e em movimento, dificilmente consegue parar e no final da neve (ou no meio) sempre tem pedras…

Por isso eu nem falo nada, sei que a preocupação de Jesus é a minha segurança, so digo para ele, que eu não estou comentendo erros porque eu quero e sim, porque estou muito cansado, ou melhor, perto de exhausto mesmo. Bom, aos trancos e barrancos a gente chega no caminho onde está o carro e que está sem neve agora. Mais 150 metros de caminhada e listo (pronto)! Eu tiro as polainas, o casaco e as calças de chuva, mortinho com farofa.

Jesus me pergunto o que quero primeiro: almoçar ou dormir? Primeiro um banho e depois dormir. A gente chega em torno de umas 16:15 e umas 16:40 estou debaixo das cobertas, exhausto. Como o Jesus disse para os outros objetivos: Acontango, check! Ou seja, somente falta o Parinacota para cumprir todos os pontos.

 

As 19:30 Jesus bate na minha porta: “Sr. Miller, quiere cenar?” Esse Sr. Miller vem da primeira viagem. Tinha uma cozinheira, a Suzanita, que me chamava o tempo todo: Sr. Miller, quieres desayuno, como estás, etc. chegou a ser engraçado o zelo dela…rs

Aí ficou o meu apelido de Sr. Miller….rs

 

Hoje precisamos comer fora, porque os donos da lodge estão inutilizados pela festa de despedida do Carnaval. Jesus me disse que estavam estirados com confetis e rolinhos de papel colorido em volta da cabeça, interditados…kkkk Alias, aqui na Bolivia, os nativos levam as festas muito à sério. Nada funciona…rs
Uma vez Jesus chegou com 8 turistas num acampamento durante o Carnaval, tudo reservado e pago, mas ninguém abriu a Lodge e quando ele foi buscar o responsável ouvir a resposta: “Tienes que entender, hoy es dia de fiesta!”, ou seja, foda-se vocês. Ele tiveram que acampanhar, foi a única solução…rs

 

A gente volta umas 20:45 e eu caio na cama, a minha acordada final é as exatamente 12 horas depois, as 8:45 vou tomar café da manhã. Temos agora 2 dias de descanso para eu tentar recuperar minhas forças. Como eu cheguei muito cansado dos Termales, acredito que isso foi uma das coisas que contribuiu para meu cansaço. Jesus acha que a minha glicose caiu e por isso cheguei a ficar tão exhausto, além de ter me hidratador de menos. Ao invés de 2, preciso levar 3 litros para o Parinacota, além de levar mais chocolate e comer aos poucos. Eu sei que cada dia é um dia, e que as vezes o nosso corpo é capaz de produzir muito mais, porém se eu cheguei aos trancos e barrancos a fazer 750 metros de altitude no Acotango, no Parinacota serão 1300, ou seja, nada animador. Portanto nenhuma batalha está perdida antes de começar. Esses dois próximos dias são de total descanso, ir de carro até os banhos termais, comer bem e dormir bem.