coracaoselvagem
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9 de junho de 2011 às 19:09 42 views

E acontece que ontem eu acordei com a alma nos 70s e quis compartilhar com o mundo todo. Coloquei o som ao máximo nos smash puppinks e fui me deixando levar pela brincadeira do tempo. Escrevi tanta coisa. Coisas que nem eram minhas, de algum garotão de 1979 quem sabe. E então aconteceu, a luz caiu e tudo se perdeu. Não sei se foi por ter despertado de um passado inexistente, feito a gente que acorda de súbito de um bom sonho, ou se foi porque, meio que instintivamente (por mais desnatural que seja) por um momento também pensei que era movido a 220v, tive a sensação de desligamento. A luz voltou, eu lembrei que sou gente, mas o texto já estava perdido naquele segundo de escuridão. E uma vez na escuridão é difícil de se(i) achar.
Tentei recuperar, com essa esperança pós-moderna de achar que pra tudo há jeito. Pra morte nunca vai haver. E meu texto morreu sem sequer deixar cadáver. Alguns dados que se foram porque o destino gosta de rolar seus próprios dados. A pós-modernidade é ilusão.
E tentei refazer, essa coisa bem pré-histórica de recomeçar. Mas o momento tinha sido apagado, minha alma não estava mais em woodstock e os smash puppinks tinham cansado meus ouvidos. Até lembrei da maior parte do texto, dos fatos e acontecimentos e fui escrevendo - depois quem sabe publique - mas fatos e acontecimentos não tem alma de maneira que achei tudo muito ruim e piegas.
Sua mãe te ama, é um fato. Mas apenas ler isso não garante que, esteja sua mãe onde estiver, você vai sentir o coraçãozinho quente dela batendo de amor por ti. Mas um dia você vai levantar da cama, vai ficar com um nózinho no peito, com um sentimento bem morninho que vai te confortar e te aquecer e dentro de ti vai caber o infinito que é amor de mãe. Vai pensar nela o dia todo, e, se você tentar contar, ninguém vai te entender. No máximo entenderão os fatos porque as pessoas só entendem fatos. Sua mãe te ama, apenas guarde, no momento certo você vai saber o que fazer.
Fatos são fáceis de entender, mais fáceis ainda de escrever. O escritor, penso, não escreve fatos. O escritor compreende dentro de si o infinito que é o amor de mãe, por exemplo, e tenta fazer você também compreender, não o fato, que fique claro. Seu papel é colocar palavras precisas mas que deixem o infinito das coisas em seu infinito mais possível. Não é fácil. Cada letra vai colocando finitos naquilo que dentro de você não tem fim. O escritor sabe disso, e por isso sua atividade talvez seja uma das mais tristes. Tenho tanta pena da Clarice.
Não sei bem porque escrevi isso, perdão, o fato é que o texto está morto. E embora eu lembre dos fatos que lá estavam e talvez até consiga reproduzir o que havia escrito com o máximo de fidelidade ao original, de nada serve se 1979 já passou. Talvez tenha se perdido pra sempre naqueles tristes segundos de escuridão. Também eu ainda não me recuperei totalmente, é que algum fuzil deve ter queimado.

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